A coisa mais difícil da vida é amar o que a gente não gosta em quem a gente mais gosta. Porque assim: mesmo quando se trata das pessoas que a gente mais ama na vida, a gente não ama TUDO nessas pessoas. Ah, mas não ama mesmo.
Inclusive as pessoas que a gente mais ama nos detonam raiva, frustração… todos têm um lado feio, repetitivo, chato. E, às vezes, elas cometem o erro mais grave de todos, o pecado capital: elas não correspondem à idealização que a gente montou delas.
Não fomos ensinados que o amor verdadeiro é abnegado, incondicional? É ok adicionar um “apesar de” depois do “eu te amo”? Eu te amo apesar de. Difícil lidar com o “apesar de”. Quando calar, quando falar? Quando confrontar? Respirar fundo e se afastar? Revirar os olhinhos, suspirar e relevar? Tentar mudar, explicar? Se desgastar? Ou apenas aceitar? Como, afinal, lidar com o que a gente não ama em quem a gente mais ama?
O que é importante a gente entender: nascemos bicho, puro instinto. Tudo alecrim dourado do campo. Mas aí, então, vamos nos humanizando (e, em algum momento, nos desumanizando também). A partir disso, surge toda sorte de afetos desagradáveis intrinsicamente humanos. E tudo bem senti-los e detectá-los no outro.
A gente quer atenção, reconhecimento, acolhimento, apoio, aplauso, nossos desejos satisfeitos. E ficamos bravíssimos quando o outro não nos atende. Num relacionamento, queremos segurança e estabilidade, mas também desejamos aventura e surpresa. E o outro que lute pra adivinhar quando queremos o quê, porque nem sempre verbalizamos as coisas mais importantes com quem temos mais intimidade.
Meu marido há 18 anos é a pessoa mais correta, honesta e trabalhadeira que se pode imaginar. Capricorniano raiz. Porém… ô bichinho rabugento! É o cara do copo meio vazio, meu ranzinza favorito. Eu voo; ele aterrissa. Eu brinco; ele bronca. Eu festa; ele sofá. Eu terapia; ele silêncio. Eu exposição; ele resguardo. Eu gasto; ele poupa. Eu sonho; ele vida real.
Colocando assim, até parece poesia, mas no dia a dia não é, não. Opostos complementares pode ser bom, mas como é difícil a gente amar o que a gente não gosta! Ou o que a gente não é.
Ainda bem que a corda da tolerância pode ser beeem elástica, não? Porque nada é mais humano do que “amar apesar de”. Às vezes, o “apesar de” quase fica do mesmo tamanho do amar. E então, ele retrocede. E é neste eterno exercício de compensação que reside a mágica. A mágica de se amar o que não gostamos em quem mais gostamos.
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a todos os namorados para este dia especial aqui